Verão e chuvas intensas reacendem o debate sobre a necessidade de redes subterrâneas para modernizar o sistema e evitar apagões em meio às mudanças climáticas cada vez mais severas.
As intensas chuvas que atingem a Região Metropolitana de São Paulo desde a última sexta-feira (20) evidencia mais uma vez a fragilidade do sistema de distribuição de energia elétrica.
Dados divulgados pela Enel Distribuição São Paulo no domingo (22) mostraram que 35,7 mil residências em 24 cidades da região devido a uma única chuva que durou poucos minutos. No mesmo dia, o Corpo de Bombeiros registrou 111 chamados de quedas de árvores relacionadas às tempestades, ressaltando o impacto direto das condições climáticas no fornecimento de energia.
A situação ocorre em um contexto de alta precipitação no estado. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam um grande volume de chuvas acumuladas previsto para os próximos dias. No verão passado, a capital paulista registrou 908,2 milímetros de precipitação, reforçando o período entre dezembro e março como a estação mais chuvosa do ano.
A crise expõe as consequências diretas na vida da população, conforme destacou o deputado federal Marcelo Crivella. “Desde perdas de alimentos nas geladeiras até pessoas presas em elevadores, o sistema aéreo tem mostrado cada vez mais a sua vulnerabilidade”, afirmou.
Menos de 1% da rede elétrica brasileira é subterrânea. São Paulo possui apenas 60 quilômetros de cabos aterrados, enquanto cidades como Rio de Janeiro e Belo Horizonte contam com 11% e 2% de redes subterrâneas, respectivamente. No cenário internacional, o contraste é ainda mais evidente: Londres e Paris começaram a enterrar seus fios no século XIX, e Nova York já possui 71% de sua rede subterrânea.
A implementação de redes subterrâneas em São Paulo, no entanto, esbarra nos custos elevados. A Prefeitura estima que apenas a região central demandaria investimentos de aproximadamente R$20 bilhões. Mesmo assim, Crivella defende que os benefícios compensam os gastos. “Além de evitar apagões, o sistema subterrâneo reduz furtos de energia e cabos, melhora a segurança pública e gera economia a longo prazo”, explicou.
O deputado relembrou o Projeto de Lei nº 37/2011, de sua autoria, que obrigaria as concessionárias a substituir redes aéreas por subterrâneas em cidades com mais de 100 mil habitantes. Arquivado na época, Crivella lamenta a oportunidade perdida: “Se tivesse sido aprovado, hoje contaríamos com uma rede mais segura e eficiente”.
Especialistas e parlamentares argumentam que a crise energética atual deve ser um alerta para a necessidade urgente de modernização do setor elétrico, especialmente em um contexto de mudanças climáticas e tempestades mais frequentes. “Precisamos de uma rede de distribuição à altura dos desafios impostos pelas crises climáticas, que assegure um fornecimento estável e seguro para todos”, concluiu Crivella.
O debate sobre redes subterrâneas deve continuar a ganhar força, unindo esforços entre gestores públicos, concessionárias e sociedade civil para modernizar a infraestrutura energética de São Paulo e do Brasil.